sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

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Os problemas surgem apenas para nos fortalecer.
E eles passam. E ficam no passado.
Meu alimento é o presente e o futuro...
Palpável. Sentido. Amado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eu (Fernando Pessoa)

Sou louco e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.

Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo o herdado só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A arte de ser

Eu queria ter a arte de ser
Ser nas palavras aquilo que sou ao dormir
Ser ao dormir aquilo que sou ao escrever
Queria possuir no jogo com o tempo
A simetria dos versos parnasianos
Pintar minhas palavras com tinta vermelha
E senti-las vermelhas mesmo quando já o são
O artista de rua, que vê vermelhas palavras brancas
E ouve pulsar vermelho os sons inaudíveis
A cabeça que roda em todos os graus
E que, quando deve, esquece
Queria não ver a gramática do que escrevo
Do que ouço, do que faço...
Nem a prosa de versos tão chinfrins
Possuir palavras que me fossem, me tornassem
E desanuviassem esse semblante esquisito que se adquire com o tempo
O jogo
Queria não falar de mim, nem de “eu”, nem comigo
Queria falar e escrever além, como sinto
E, pudera eu, ser transmissível
A espera, o longo caminho do não saber
Do estar de pé, mas querer sentar
Queria suplantar as barreiras desse suporte de papel
Queria que as palavras saíssem saíssem saíssem saíssem saíssem boca a fora
Sem necessidade de pausa ou explicação
Enquanto dissessem o que queriam dizer
Sem controle
Queria que as lágrimas apagassem
A queimação do estômago
Que nem as drogas saciam
Hoje um passarinho bem pequenino
Visitou-me numa janela que não era minha
Cantou e sua última frase foi um adeus apertado
Tudo sem conceitos
Queria transpor em imagens aquilo que não vejo
E pensar duas vezes quando fosse preciso só uma
Abolir de vez essa vontade de sentar
Ao contrário de permanecer em pé
Vendo de uma relativa posição mais alta
O que já posso ver numa posição mais baixa
Mas sentindo o sangue correr em vertical
Do topo da cabeça aos dedos dos pés
Sem empecilhos
Esse frio na espinha não sei de onde
Esse cheiro doce que me enjoa
Essas pernas que não me invejam
Pernas pernas pernas pernas pernas... pra que lhes quero
Ainda não sei.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O amor... (Cecília Meireles)

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.