quarta-feira, 16 de março de 2011

Um homem [em homenagem]

Sua inteligência absolutamente fora do comum de tão grande, a princípio me deixou embaraçada. Tive que me habituar ao jargão da grande inteligência. É normalmente sério, mas tem um sorriso - não, não vou dizer que o seu sorriso lhe ilumina o rosto todo. Mas, enfim, é a verdade. Ele não tem medo do lugar-comum, o tal não-engajamento o leva à atmosfea de sua inteligência. Esta muitas vezes usa sofismas, que são a astúcia de quem pode. Entendo-o não com a cabeça, que não alcançaria a sua, mas com minha pessoa inteira. Aliás, ele é uma pessoa inteira. Seus olhos muito negros não se desviam: ele não tem medo de olhar os homens no profundo dos olhos. Dá vontade de sorrir com ele. Se eu soubesse. Aliás, preciso me habituar a sorrir mais, senão pensam que estou com problemas e não com o rosto apenas sério ou concentrado.Voltando ao homem: quando ele diz "até amanhã", sabe-se que o amanhã virá. Ele tem um ligeiro mau gosto na escolha dos objetos de adorno que compra. Isso me dá ternura. Ele é inconsciente de que eu o vejo tanto, não tantas vezes, mas tanto.

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Noite

O sono nos teus braços
A onda quebrando do mar
O movimento suave dos quadris
A respiração ofegante ao pé do ouvido
Os rios, o Negro e o Solimões,
Se enfrentando
Se misturando
Se encontrando.