terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Palavras (Claudia Schroeder)
Não suporto mais dizer a mesma coisa a você.
As palavras que são santas
me engasgam a garganta.
Só queria não sentir
o que escrevo.
As palavras que são santas
me engasgam a garganta.
Só queria não sentir
o que escrevo.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Olhos
olhos abertos querendo estar fechados
vida curta cada dia mais curta
olhos fechados querendo estar abertos
vida mais curta cada dia curta
vida curta cada dia mais curta
olhos fechados querendo estar abertos
vida mais curta cada dia curta
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Vida
Alguma tristeza abala
Nessas horas
Que o sono resvala
Bate à porta
Machuca o corpo
Vai embora
O desamparo
Permanece
Nessas linhas
Estrofes vivas
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Insônia
O barulho da casa não a deixa dormir. Naquela hora solene e exata em que o sono vem chegando, ela desperta - a TV a desperta, os narizes a despertam, as vozes, até o zumbir dos mosquitinhos... Ela, então, levanta. A sensação de ficar rolando na cama e se perdendo entre as cobertas, tentando achar o tal sono perdido, a incomoda (e ainda tem o mosquitinho zumbindo... é preciso fugir dele...). O que fazer? Que tal ler? Ela pega o livro e a próxima crônica se chama, oportunamente, "Insônia infeliz e feliz". (Quais seriam as chances, né?). A personagem-autora do texto que lê também acorda no meio da noite. Uma coisa as difere: na ficção/realidade que lê, o que impera é o silêncio; ao contrário do ambiente onde ela está, cheio de zumbido de mosquitos e narizes e TV's... Enquanto lê e pensa na vida e no mundo, coisas engraçadas começam a saltar do livro e invadir a sua noite... Tomar café, como a protagonista? Jamais. Ela optou por ler e escrever - exatamente o que a cronista disse para não fazer absolutamente! Até o termo que as duas usaram foi igual: "Jamais".
E assim foi-se fundindo às avessas vida e obra, ficção e realidade. A diferença estava no desfecho dessas duas histórias tão diferentes e distantes quanto similares: Clarice permanece acordando sob o sol de parador litorâneo; eu busco o sono longe e longe de todos os zumbidos.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Como rasurar a paisagem (Ana Cristina Cesar)
a fotografia
é um tempo morto
fictício retorno à simetria
secreto desejo do poema
censura impossível
do poeta
é um tempo morto
fictício retorno à simetria
secreto desejo do poema
censura impossível
do poeta
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Acordar
Só mesmo Clarice - a Lispector - pra me acordar assim, com essa doçura tão abrupta, como o rosto encolhido esperando o tapa que não chega...
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