quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Este era o primeiro capítulo

É preciso, novamente, conhecer os lugares que, um dia, nos abrigaram
Reconhecer os cantos escuros ou mal iluminados
Refúgios quando estávamos com medo.
Pois o medo voltou. A solidão instalou-se novamente.
Crianças felizes, sorrisos infantis não são mais paliativos para a dor
Nem lembranças, nem amigos, nada existe mais.
A sensação de torpor que o álcool provocava, agora, demora a chegar.
O dia está claro, as pessoas são vivas
E morre dentro dela a esperança.
Nenhuma droga alivia isso, esse peso
Apenas aquelas do sono eterno.
Parece romântico
Mas atitudes românticas têm um propósito:
O descanso. O descanso merecido
Merecido ou procurado ou desejado ou fugitivo.
A busca por lugares agradáveis revela o desagradável. O indesejável
Sentada ao lado de um arbusto, tentando se esconder de tudo o que se movimenta.
Tudo isso passou por sua cabeça
Tudo isso foi pensado, foi sentido.
Mas a dor não se aplacava.
O vazio.
E aquele medo
Termendo. Inquieta. Sozinha.
As sensações apenas vinham. Desconexas
Mas tudo parecia se encaixar.
Uma ode a si mesma. Um elogio a si mesma. Um fim.
Algo se aproximava
Ela não sabia o que era
Mas sentia. Sentia algo.
Mais do que a fumaça rasgando sua garganta
Mais do que sentir.
Uma ode a si mesma.
Mais. Sempre Mais.
E esse mais a levou para lugares obscuros
Claros, mas obscuros
Cegos, mas obscuros.
Fazia tempo.
E fazia tempo que isso não acontecia a ela
Fazia tempo, também, que ela não fazia isso.
Ela sabia, agora, a grande questão do mundo, o seu grande segredo.
Sabia ela, no final, que eram muitas perguntas
E nenhuma resposta.
Lembou-se de seus ídolos
Lembrou-se de Clarice. E de Lygia.
E de Ana Luisa.
Queria ser austera como ela. Como ela aparentava.
Queria ser ela.
Queria ser ela?
Era ainda ela?
Não sabia.
Àquela época, alguém havia morrido
Ela o escutava
E alguém imaginário também havia partido
E não havia ninguém mais para matar.
O torpor estava chegando
Mas ele, logo, seria aplacado
Ela não queria
Nem que, no outro dia, ela tivesse que rodar o mundo.
Ela já não se reconhecia
Nem em si, nem nos outros. Como tanto, e insistentemente, e fracassadamente, tentara.
As horas, os minutos passavam.
Ela não queria
Queria que algo terminasse
Até aquilo. Até aquilo?
Aquelas expectativas a incomodavam
Mas ela sabia que o final só poderia ser escrito ao cair do dia.
Coisas se acumulando. Acumuladas
Nada mais representava um desafio, um estímulo
Apenas as lembranças retornavam aos seus olhos
Talvez fora a inspiração que tivesse acabado.
A sensação de torpor talvez pudesse ajudar.
Mas ela sabia que o final só poderia ser escrito ao cair do dia.


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Angústia maldita que não passava!

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Histórias, talvez, na verdade, sejam feitas apenas para serem contadas e compartilhadas. Jamais vividas. Ou, se vividas, depois, terminadas, para serem contadas e compartilhadas.

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E assim terminava o primeiro capítulo da história de Ana Luisa.

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